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Projeto Lótus leva empoderamento e cidadania às mulheres

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Projeto leva inclusão e cidadania para mulheres em situação de prisão em Guaíba
Projeto leva inclusão e cidadania para mulheres em situação de prisão em Guaíba - Foto: AMA

Desde o começo de junho, as mulheres em privação de liberdade na Penitenciária Feminina Julieta Balestro, em Guaíba, passam por um profundo resgate de cidadania. Trata-se do Projeto Lótus – Feitios, resgate, saúde e autonomia, desenvolvido pela AMA – Associação Amigos do Meio Ambiente, com recursos obtidos através de Edital da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Guaíba.

A ideia surgiu a partir das reuniões do Conselho da Comunidade de Guaíba, com a identificação de demandas básicas na rotina das mulheres que cumprem pena na penitenciária, sobretudo com respeito a artigos de higiene pessoal e cuidados com a própria saúde.

Neste sentido, o Projeto Lótus consiste no ensino da feitura de produtos como desodorante, xampu, sabonete, pomadas, cremes, e confecção e uso de extratos de plantas medicinais. A intenção é propiciar que as 28 mulheres participantes desta primeira edição produzam, de maneira autônoma, os itens necessários para a manutenção de sua própria higiene pessoal e das demais mulheres que não foram contempladas neste momento.

Foram adquiridos utensílios e matérias primas para a elaboração de produtos para cerca de 100 pessoas (o presídio conta com uma população atual de cerca de 230 mulheres), com a garantia de que, após o término do curso, os materiais permanecerão disponíveis para o uso local, sob supervisão. Devido à simplicidade dos materiais envolvidos, porém, as mulheres poderão produzir muitas das receitas ensinadas no curso dentro de suas próprias celas.

“Tivemos a atenção de preparar receitas que utilizam matérias primas de baixo custo, fácil acesso, de simples elaboração, e com cuidado com o ambiente, uma vez que reutilizamos embalagens, que muitos feitios podem ser usados para mais de um fim, e que com a produção de nossos próprios artigos de higiene, deixamos de consumir os produtos da indústria farmacêutica e cosmética, que cria demandas desnecessárias, faz uso de vários elementos químicos potencialmente cancerígenos e se caracteriza como uma atividade econômica causadora de grandes impactos ambientais”, afirma a bióloga Naieth Baggio da Silva, idealizadora e integrante do projeto.

Uma equipe especial

Além de Naieth, a equipe do projeto é formada por Lívia Braga Teixeira, (bio)arquiteta, aprendiz de alquimista, mãe, artesã, curiosa da natureza e ativista do empoderamento e resgate da força do feminino e do parto livre, guardiã da Caverna Sagrada (Laboratório Alquímico Experimental), que tem como atividade a manipulação de elementos naturais para feitio de poções caseiras como alternativa a produtos de limpeza, higiene, beleza e saúde, sem aditivos químicos e sintéticos; Yasmine Appel, mãe da Lara Nalu, doula na tradição, terapeuta vibracional, eterna aprendiz do saber das ervas e insumos que proporcionam saúde e autonomia, integrante do coletivo Semearte Biocosméticos Aromaterapia e Ciclos do Feminino, que também se dedica a oficinas voltadas para o público de vulnerabilidade social acreditando na troca de valores com as classes de minoria; e Lisiane Brolese, agrônoma com experiência com Agroecologia, cultivo e uso de plantas medicinais, sistemas agroflorestais e agricultura urbana, além de produtora de seus próprios preparados de uso medicinal, a partir principalmente da experiência com grupos de mulheres rurais que trabalham com ervas medicinais.

Nos encontros do projeto, além das oficinas teóricas e práticas, onde as participantes aprendem os feitios, as oficineiras tem primado pela construção de um ambiente de resgate de seus saberes e suas histórias, de afeto e cuidado consigo e com o/a próximo/a. Este processo de discussão e aprendizado visa, segundo a equipe, à geração de sentimentos de pertencimento, autoestima, autonomia e resiliência, que podem contribuir à ressocialização, e consequentemente à não reincidência.

Em paralelo ao resgate da autoestima, no entanto, o saber dos feitios pode se tornar um ofício para aquelas que quiserem dar prosseguimento às atividades dentro da penitenciária, ou, quando estiverem em liberdade, ser uma ocupação que promova sua geração de renda, tendo em vista a grande dificuldade de reinserção no mercado de trabalho formal após uma passagem pela prisão.

Conforme Eduardo Raguse Quadros, Coordenador da AMA, este projeto também deve ser visto como o começo de um trabalho mais amplo:

– Através deste projeto, pretendemos fomentar o debate da questão prisional em Guaíba, já que, além desta Penitenciária Feminina, está em construção uma Penitenciária Masculina em nossa cidade, e entendemos que devemos assumir nosso papel como comunidade frente a estas estruturas do estado e contribuir para que, enquanto perdurar esta forma de organização social, seja garantido às pessoas que cometeram algum erro, o direito de cumprirem suas penas e que este período às prepare para uma reinserção social digna – conceitua.

Parceria pioneira com o Poder Judiciário

A AMA, como entidade ambientalista, foi pioneira no convênio com o Poder Judiciário (Vara de Execuções Criminais e Juizado Especial Criminal) do Foro da Comarca de Guaíba, através do Conselho da Comunidade, desenvolvendo desde 2001 projetos que acolhem prestadores de serviço comunitário, por entender a importância de incentivar a aplicação de penas alternativas à prisão. Os Conselhos da Comunidade possuem função de articulação dos recursos, de fiscalização, de luta pela preservação de direitos, de ressocialização e de representação das comunidades na execução da política penal e penitenciária.

Projeto Lótus formará sua primeira turma ainda no mês de julho. Apesar disso, a AMA continuará a busca pela viabilização de novas edições como esta, ou variações com trabalhos em outras temáticas. Para maiores informações sobre o projeto ou mesmo para contribuir com doações e sugestões sobre temas e atividades a serem trabalhados, o contato pode ser feito pelo e-mail amaguaiba@gmail.com ou pelo facebook.com/amaguaibars.

Simbolismo do Projeto Lótus

Lótus (Nelumbo nucifera) é uma planta aquática nativa da Ásia, que habita cursos de água doce, lentos e com pouca profundidade, pois mantém suas raízes no lodo do fundo. Na cultura oriental, em especial no budismo, diz-se que, a partir do lodo, pode nascer uma das mais belas flores, a flor de lótus, que simboliza a libertação e superação do sofrimento (representado pelo lodo e pela água), emergindo a partir daí a manifestação de nossas qualidades mais puras, deixando o que passou em nossas vidas no lodo e na água, entendendo que não somos aquilo, e nos lembrando de que, mesmo das mais difíceis situações, é possível brotar beleza, perfume, luz e amor.

Mais imagens do site http://amaguaiba.org

Texto: Asscom AMA
Edição: Asscom SSP

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